Astrosphera

Ancient astrological technics uncovered.

Archive for Ali Ben Ragel

As grandes conjunções (Júpiter-Saturno) Parte 3: a mudança de triplicidade

As Grandes conjunções (conjunções entre Júpiter e Saturno) constituem um elemento da Astrologia Persa que foi incorporado às práticas astrológicas ocidentais no medievo.
Elas não são oriundas do Tetrabiblos mas, a despeito da falta de respeito que tudo não-ptolomaico tem na astrologia, se mantiveram bem aceitas por séculos, talvez devido à eminência de um dos seus divulgadores, Abu Ma’shar.
As grandes conjunções são utilizadas para prever alterações na ordem mundial. Elas marcam o nascimento de profetas, ideólogos (como Karl Marx), e subseqüentemente, toda a alteração que essas novas religiões e ideologias causam na humanidade.
Mas não é só isso. Ao mudar os princípios que regem a humanidade, altera-se todo o jogo de forças geopolíticas; logo, as Grandes Conjunções também indicam mudanças no poder mundial, a queda de ‘dinastias’ e o surgimento de outras, etc.

Nas democracias, as ‘dinastias’ não vigoram mais… ao menos, não como antes (lil’ bit sarcastic…). No Maranhão, temos a Dinastia Sarney, há anos no poder mas, em tese, a cada 4 ou cinco anos, sobe um governante escolhido pelo povo.
O conceito de dinastia, porém, pode ser usado em muitos estados modernos, como a China, a Coréia do Norte, e durante muito tempo pôde ser usado para o Egito, que está nos holofotes atualmente e merece um artigo à parte.
Para prever essas alterações importantes, devemos analisar a carta de ingresso do Sol no primeiro minuto do Signo de Áries (Abu Ma’shar, Masha’Allah, Bonatti, Ali aben Ragel, etc.) ou a carta do eclipse mais próxima da exatidão da conjunção (Al-Battani).

Júpiter e Saturno se unem a cada 20 anos, mas não é toda a conjunção que deve ser importante a ponto de se criar uma nova religião ou ideologia.

Para um observador mais distraído, essas conjunções não seriam as melhores indicações de mudanças na ordem mundial, por ocorrem dentro um ciclo historicamente muito curto, de apenas 20 anos.
Por conta disso, muita gente recorre aos ciclos dos planetas Urano, Netuno e Plutão, percebendo a simbologia de certas fases dos seus ciclos com os eventos históricos que ocorreram simultaneamente.
Não estou na posição de criticar quem realiza esse tipo de Astrologia, mas sim de estudar como as mudanças mundiais eram percebidas pelos Astrólogos antigos.
Nunca vi criticarem a astrologia medieval por não usar os planetas além de saturno nos eventos mundiais mas, se acaso fosse, os ignorantes costumam ser maiores críticos e alegariam que nela não existe modo de se acompanhar grandes ciclos da humanidade porque, como foi dito anteriormente, Júpiter e Saturno se unem no mesmo signo a cada 20 anos, sendo esse um tempo muito pequeno dentro da história da humanidade.
Os ignorantes também costumam errar nas suas críticas.
As conjunções Júpiter-Saturno obedecem a um padrão geométrico-zodiacal interessante, que os leitores puderam perceber na figura abaixo, num dos posts anteriores:

O que percebemos na figura acima é que as conjunções de fato ocorrem a cada 20 anos, porém:
  1. A conjunção seguinte ocorre no nono signo do qual ocorreu a anterior,
  2. A conjunção seguinte não ocorre na mesma longitude que possuía no signo anterior, mas aproximadamente 3º à frente. Por exemplo, se a conjunção ocorreu em 20ºPeixes, ela ocorrerá daqui a 20 anos em 23 de Escorpião, aproximadamente.
  3. Seguindo o padrão anterior, há cerca de 12 ou 13 conjunções seguidas em Signos do mesmo elemento.
  4. Ainda seguindo as premissas anteriores, a série de 12 a 13 Conjunções permanecem no mesmo elemento por aproximadamente 240 anos, quando passam ao elemento (triplicidade) seguinte.
A cada 240 anos, portanto, ocorre um fenômeno importantíssimo, chamado de mudança de triplicidade.
Os astrólogos antigos analisavam a mudança de triplicidade das conjunções Júpiter-Saturno para prever as mudanças do poder geopolítico e das ideologias da humanidade.
Essas conjunções, porém, podem ser calculadas por dois parâmetros, que já foram vistos por aqui:
  • Movimento médio, que não existe mas que é regular. Seria a ‘velocidade média’ dos planetas.
  • Movimento real, aquilo que você tem no céu e o que todos os programas contém.
Steven Birchfield alega que Abu Ma’shar usava movimento médio para definir qual conjunção de movimento real seria a mais significativa, mas Al-Battani considerou uma conjunção real que não coincidia com o signo indicado pelo movimento médio.

Trata-se de uma questão polêmica, e que não convém aqui julgar qual lado é o correto, mas eu creio que o movimento médio não seja importante, e sim o real, portanto de hoje em diante considerarei as mudanças de triplicidade não no movimento médio, mas no real.

O post está ficando longo demais e, portanto, dedicarei ao próximo um estudo das mudanças de triplicidade no zodíaco sideral e tropical, pricipalmente no século XIX e XX.

Revolução Solar e os antigos

Temos vários modos de analisar uma revolução Solar mas este artigo vai se concentrar naqueles mais reconhecidos pela tradição. Fundamento minhas proposições no livro de Morin sobre o tema e o sexto livro de Ali Aben Ragel. Inicialmente, abro o artigo com uma reflexão sobre a nossa falta de conhecimento acerca de nossos próprios mapas.

A tradição clássica e medieval enfatiza que a Revolução Solar traz novos eventos ao nativo, porém deixa igualmente claro que esses novos eventos nunca entrarão em contradição com os significados natais. Essa frase é dificilmente questionada e eu a interpreto mais como um desafio do que um mandamento fácil de ser seguido. Ela me incita a mesma coisa que a famosa frase “conhece-te a ti mesmo”. Para perceber se uma coisa contradiz o mapa natal, é preciso conhecer a figura natal em profundidade. Um bom trabalho preditivo implica estudar uma figura natal ad nauseum e isso muitas vezes fica fora das possibilidades de hoje em dia, quando temos cada vez menos tempo para cada vez mais atividades. Essa falta de tempo entra em contraste com o que uma disciplina como a Astrologia requer de nós.

Conhecer a figura natal é mais do que saber onde ficam e como estão suas partes árabes; implica eleger os melhores significadores de cada tema, as promessas que não são facilmente reveladas pelo simples olhar. Eu estudo Astrologia Medieval e sei de cor no meu mapa a posição de vários Lotes; mas confesso que nem sempre sei a importância deles na minha vida e tampouco ainda elegi o melhor significador para cada assunto.

Não sei se estou criando mistério onde não se deve; coincidentemente, a tradição astrológica é repleta de mistérios pela dificuldade na transmissão de conhecimento; há mistérios propositais e mistérios acidentais, sendo os últimos devido à perda de manuscritos que revelariam técnicas muito proveitosas. Esperemos por mais material: esse ano, Benjamin Dykes pode lançar um dos poucos livros com textos que discorrem sobre o tema da Revoluções Solares. Algumas lacunas serão preenchidas.

Em se tratando da técnica interpretativa, queria compartilhar alguns insights com o leitor. O primeiro é que a figura da Revolução sempre foi considerada como um apêndice do mapa natal. Em outras palavras, segundo Morin de Villefranche:

A Figura natal precede a Revolução Solar em tempo e em significância.

Logo, a RS tem de ser interpretada em função do mapa natal. Morin fala isso com base na lógica: se a Rs fosse mais importante que o mapa natal, então todos os anos haveria uma chance das nossas circunstâncias de vida mudarem radicalmente para sempre, padrão esse que não se sustenta ao vermos na prática o que acontece.

Dentro de uma RS, os planetas guardam uma memória do que eles significavam no mapa natal, mas essa memória se mistura com novas configurações do mapa revolucional, o que gera a simbologia de novos eventos.


Por exemplo, Marte no meu mapa natal rege o Ascendente e está na Casa 6; , portanto o meu envolvimento em doenças, miséria e trabalho árduo; a oposição ao Sol nos signos angulares promete acidentes, de acordo com Ptolomeu.


Na Revolução de 2007, Marte estava em Aquário na Casa 10 em oposição a Saturno. Diversos autores clássicos assinalam que Marte em oposição ou em conjunção a Saturno nos ângulos indica o risco de acidentes, principalmente se eles estão na Casa X e IV; em outros mapas, isso não seria verdade mas, como o Marte rege o meu Ascendente natal, os significados tendem a envolver o meu corpo físico. Outras pessoas poderiam ter o mesmo mapa Revolucional mas, não possuindo o mesmo Ascendente que eu, não tiveram as mesmas questões. O resultado de toda essa interpretação foi que eu fraturei a perna após uma queda de um muro de 3 metros de altura.

O segundo insight, ainda embrionário, deve ser pensado melhor e comprovado; em todo o caso, ei-lo aqui. Morin dizia que o retorno de um planeta (que não fosse o Sol, obviamente) ao seu signo natal na RS ratifica as promessas indicadas por esse mesmo planeta no mapa natal. Essa observação contém mais informações do que aparenta. Ela traz implícita o conceito de aspecto e testemunho, que já falamos por aqui. Sintetizando:

Para que um planeta tenha testemunho no signo, ele precisa aspectá-lo.

Isso carece de comprovação, mas vale a pena especular. O conceito de testemunho tem aparecido mais como um princípio universal da Astrologia do que uma técnica a ser aplicada em mapas específicos: se ela é empregada pelos autores medievais em horárias, mapas natais e mundiais, porque ela não funcionaria nas RSs? Com esse raciocínio, começo a questionar também o testemunho de um planeta na RS.

Talvez um planeta na RS em aspecto com o seu signo natal (ou seja, os domicílios que ele regia e ao mesmo tempo o signo que ele ocupava) seja um forte testemunho de que ele pode ser usado esse ano para representar a mesma coisa que indicava na natividade; caso contrário, seu testemunho é pequeno e ele deve ser desprezado. Considerar essa possibilidade – para em seguida confirmá-la com a prática – já facilitaria muito a interpretação.

Por exemplo, na minha Revolução de 2007, Marte em Aquário na Casa X não teve muita relação com a minha carreira. Tive demora para entrar no mercado de trabalho devido aos problemas com o atraso da minha formatura, mas conheço as manifestações marciais suficientemente bem para concluir que isso foi muito fraco em se tratando do que marte é capaz de fazer quando fica angular. Já vi casos de marte na X nos quais a pessoa se sente difamada por um escândalo ou fofoca de um superior, o que em seguida acarreta prejuízo profissional sério e sabotagens. No meu caso, não houve problema algum de infâmia e de queda de status, coisas comuns de se esperar com um maléfico fora de séquito na Casa X.

Poderíamos simplesmente crer que seria um erro de previsão contra o qual não há argumentos prever que esse Marte indicaria problemas profissionais, mas ainda acho que é melhor aprender com nossos erros. Marte na X funcionou muito mais para indicar a minha queda do que para os temas de infâmia e calúnia e uma justificativa para isso pode se encontrar no conceito de testemunho. Marte em Aquário não aspecta o décimo signo do meu Ascendente natal – Capricórnio – que trata das honras, logo, o testemunho para fama é pequeno. Em outras circunstâncias, quando marte estiver na X da Rs e ao mesmo tempo aspectar a X natal, talvez ele será uma indicação mais evidente de que posso sofrer infâmias. Por outro lado, Marte em Aquário está em sextil com Áries, em quadratura com Escorpião e em trígono com Libra, a maioria dos signos que guardam relação com ele no mapa natal por virtude de regência e de posição, sendo que todos os signos citados possuem relação com o corpo do nativo (Áries na 1), doenças (Libra, local natal de Marte) e angústia da mente (Escorpião na 8).

É claro que essas duas proposições não são suficientes, restando a nós levarmos em conta outras maneiras de se analisar a figura. Quando tiver em mente outras hipóteses, vocês saberão.

Estudo sobre amigos: Download

Primeiro estudo gratuito de 2008, “amigos.pdf” consiste num pdf de 15 páginas que visa analisar a vida social do nativo a luz da Astrologia Tradicional.

Baseada na obra de Ali Aben Ragel, “amigos” é uma delineação completa da Casa XI, acompanhada de um estudo de Caso. Este projeto abre uma frente para pesquisas da eficácia da Astrologia Tradicional.

Download gratuito aqui.

Revelações sobre as casas (2a edição)

“Quando o senhor da segunda casa estiver em algum dos ângulos por signo, mas se encontrar cadente deste ângulo por graus, signiica que ele será dado por rico, mas em sua intimidade será minguado, e fará maior despesa do que pode pagar; mas se ele estiver em alguns dos ângulos por grau, porém se encontrar recedido [cadente] dos ângulos por signo, será nascido sem fama, organizado nos seus feitos, não será afamado e terá grande riqueza da qual não mostrará; e maior e mais escondida ainda será sua riqueza se ele estiver ocidental e no Ângulo da Terra [o fundo do Céu].”

Eu me surpreendi com esse trecho. Se você quer ler essa obra, baixe os dois livros no post anterior. Trata-se de Ali Ben Ragel, um escritor árabe. Ele foi traduzido pelo Rei Afonso V e você pode ter em mãos a tradução espanhola. Eu diria que não é fácil de entender. O trecho acima foi suficientemente parafraseado para que você entendesse, já que a obra está em espanhol arcaico. Bom, eu leio livros espanhóis e sei que a gramática encontrada neste texto não é parecida… Pode ser que esteja pagando um enorme mico, vai ver que o texto está em Catalão… E eu chamando de espanhol arcaico…

Pela primeira vez eu vejo um autor salientar a diferença entre dois sistemas de casas aplicados no mesmo mapa. Eu já tratei desse assunto aqui, mas vamos fazer uma revisão com base nos mapas abaixo. Eu instalei o Solar Fire Deluxe há pouco tempo, então as cores não estão do jeito que eu gosto, em todo caso meus agradecimentos a Nalu pela sua prontidão e generosidade:

Meu mapa é um excelente exemplo de planetas confusos. Eu tenho o Sol na casa 12, porém ele está no primeiro signo a partir do Ascendente. É o tipo da distinção que um autor moderno não liga. Pra ele, o meu sol está na casa 12 e pronto. Como nós estudamos aqui astrologia medieval, não nos resumiremos a este julgamento. Abaixo nós temos a maneira como alguns autores antigos viam o sistema de casas no mapa natal:

Notaram a diferença? Meu Sol saltou da casa 12 para a casa 1! Talvez você esteja perguntando: quem lhe deu o direito de passar o Sol pra melhor casa do mapa? Antes de você pensar que eu sou um oportunista, é preciso dizer que isso não vai mudar nada na minha vida. O objetivo de pesquisar técnicas mais antigas e encontrar significados ocultos no mapa que melhor representem a minha vida como ela é. Com isso em mente, vamos esquecer o modo simplista de usar as casas.

Para tornarmos a discussão mais fácil de ser entendida, é preciso dizer que o céu não é dividido somente segundo o zodíaco. Se isso fosse verdade, seria muito mais fácil, porque estaríamos nos resumindo a apenas um sistema de coordenadas. Na verdade, o local onde você está agora é classificado segundo três sistemas de coordenadas! Cito-os abaixo:

  • O sistema zodiacal ou eclíptico, mais comum na Astrologia
  • Sistema baseado no Equador, que marca a posição de um astro ao longo do dia. Um planeta como Saturno pode ficar dias num grau zodiacal, mas todos os planetas ficam o mesmo tempo num grau em relação ao Equador: quatro minutos. Isto porque o círculo de referência dele é o Equador, centro do eixo de rotação da Terra, que gira em torno do seu próprio eixo em 24 horas aproximadamente. Um grau medido no círculo do Equador equivale a quatro minutos de tempo (24h dividido por 360 graus = 4 minutos).
  • Sistema baseado no horizonte: esse é difícil de descrever, porém é o mais fácil de ser visto. Ele é o nosso ponto de vista, nenhum outro local do mundo terá o mesmo horizonte que o seu. É esse horizonte que determina pra onde você tem que olhar no céu pra ver os outros dois círculos, o Equatorial e o Zodiacal.

Dominando estes três sistemas, ficará mais fácil entender o porquê da diversidade dos sistemas de casas. Existem mais de 20 métodos de divisão das casas celestes. Essa parte da Astrologia é tão difícil de entender que os estudantes tendem a aceitar o que é imposto por programas de Astrologia. Daí termos como métodos mais populares Placidus e Koch. Pra entender essa miscelânea, basta dizer que você pode dividir o céu segundo vários tipos de critério: baseado no tempo de passagem do sol, baseado na divisão espacial do céu, etc.

O método que uso se chama Alcabitius semi-arco, que se baseia da divisão por três dos quadrantes de acordo com o tempo em que o sol fica dentro deles. É uma divisão temporal, e muito difundida na Astrologia Medieval. É apenas por isso que uso esse sistema. As maneiras mais comuns de dividir as casas hoje se baseiam num outro círculo, o Equador. A complicação toda do método se deve a diferença entre o Equador e o zodíaco. Entre esses dois círculos existe um ângulo, chamado de obliquidade da Eclíptica. Pra quem não sabe, eclíptica é o sinônimo de zodíaco.

O ângulo entre o zodíaco e o Equador é de aproximadamente 23 graus, a tal obliquidade. “Eclíptica” é sinônimo de zodíaco. Esse simples ângulo desalinha os dois eixos (o Equatorial e o Zodiacal ou Eclíptico), gerando um murundú matemático que poucas pessoas conseguem se aventurar como hobby. O que facilita é que os dois sistemas são concêntricos, isto é, o centro dos seus raios é no mesmo ponto, o centro da Terra, por isso que ambos são representados pela mesma esfera.

Essa é pra você nunca mais esquecer: as distâncias radiais no zodíaco se medem em graus de longitude zodiacal, que são as posições dos planetas mais comumente encontradas nos mapas. As distâncias radiais no Equador são medidas por graus de Ascensão Reta. Em ambos os sistemas, parte-se do Equinócio de Primavera, a zero graus de Áries.

É por conta dessa confusão toda que a grande maioria dos Astrologos confiam cegamente nos softwares de Astrologia. Eu mesmo comecei a calcular mapas a mão para perceber que errava muito nos cálculos, principalmente na posição do Ascendente. Daí passei a confiar cegamente no meu bom e velho Solar Fire 5, agora devidamente aposentado.

Pra você encontrar seu planetinha no céu, é até fácil, se quer apenas encontrá-lo no zodíaco. Ele pode ser encontrado em quaisquer efemérides. Já os sistemas de casas dependem do Equador e do Horizonte (principalmente do primeiro), são de cálculo mais difícil.

Normalmente não se calcula tudo dos sistemas de casas porque é muito trabalhoso. Se você quiser fazer os cálculos a mão, o procedimento padrão é comprar uma tábua de casas com o método de divisão que quiser, ou seja, alguém já calculou o sistema pra você, restando somente encontrar quais valores representam o local e a hora onde você nasceu, mas não pense que essa segunda parte é fácil… Encontrar as Casas no zodíaco é mais difícil do que os planetas porque seus dados tem de ser convertidos do sistema Equatorial para o Zodiacal, enquanto as posições dos Planetas já são computadas diretamente do ponto de vista do zodíaco, e podem ser encontradas nas Efemérides.

O sistema de Casas mais popular é o Placidus, porque a Editora Pensamento publica até hoje as famosas “Tábuas de Casas para o Hemisfério Sul“, repetindo um padrão antigo da Astrologia norte americana e Européia, que hoje se dividide entre Placidus e Koch.
A figura acima seria uma das representações dos três sistemas de coordenadas aplicados em conjunto. Olha só que confusão! O círculo que é representado pela frase “em algum lugar da Terra” é o horizonte de um lugar fictício. No fundo o horizonte é um círculo como o Equador e o Zodíaco, e por isso pode ser medido também em graus, que tem um nome específico: Azimute. Esse sistema é simples, pois reflete o ponto de vista do observador. Difícil mesmo é juntar os três no cálculo Astrológico… Vale a pena dizer que o ângulo entre o zodíaco e a Eclíptica é sempre de 23 graus aproximadamente, porém o ângulo entre esses dois e o horizonte é altamente variável, e depende da latitude e longitude do local do observador, portanto não tome a imagem acima como fixa para todos os locais da Terra, porque ela não é.

Se você dominar esses três sistemas e suas medidas, nada vai te assustar na Astrologia, pois tudo é medido no céu com base neles, e mais em nenhum. Também já três sistemas já bastam, né? Dá um trabalhinho para entender no início, mas depois você se acostuma. Acho que o mais importante é saber isso tudo pra entender o que se lê por aí, já que todos deixam o cálculo pesado pros computadores, e eles não erram. E não me venha com essa de que os computadores erram, porque quando isso acontece sempre tem a mão humana cagona por trás, seja na introdução de dados errados, seja na confusão em sua interpretação…

Vamos voltar ao que interessa mais nesse artigo. Eu entrei em todas essas questões sobre divisão celeste pra você ter uma noção das inúmeras maneiras pelas quais se pode dividir o céu.

Meu primeiro mapa tem um sistema de casas mais recente, enquanto o segundo mapa tem um mais simples, que é o mais antigo que se conhece. Ele é extremamente simples por considerar a divisão pré-estabelecida do zodíaco. Robert Hand o chama de “Whole Sign Houses”, que traduzido seria “Casas de signos inteiros”. Esse sistema ainda hoje é usado na Índia pela maioria dos Astrólogos. Nele você considera o signo inteiro onde se encontra o ascendente como a primeira casa, e as casas seguintes seguem o mesmo padrão. Por isso que meu Sol, de acordo com este sistema, está na primeira casa. A segunda casa seria o signo inteiro de Touro, pois é o segundo signo a partir de Áries. Acho que você já entendeu como funciona. É simples e prático, pois você só precisa saber onde está o Ascendente da pessoa pra deduzir todas as outras áreas da vida. Isso elimina o problema dos signos interceptados, como na figura abaixo:


A Rainha Elizabeth Segunda tem duas casas seguidas em Touro e mais duas em Câncer. Ela tem Aquário, Áries, Leão e Libra interceptados! Na análise tradicional, os planetas que regem esses signos são menosprezados ou tratados como co-regentes da casa onde estão. No caso Marte é co-regente da casa 2 porque Áries se encontra interceptada nesta. Você tem ao mesmo tempo poucos planetas cuidando de muitas áreas do mapa. Planetas que representam a personalidade da pessoa, como marte e Júpiter, estão longe demais do Ascendente, e no entanto muita gente vai querer interpretá-los como representativos da personalidade da Rainha… Cá entre nós, você que já tem alguma experiência se sentiria seguro em interpretar o mapa acima?


Quando usamos signos inteiros, a coisa toda muda… Veja como os planetas são melhor distribuídos. Perceba que temos mais segurança em afirmar que marte e Júpiter pouco interferem na personalidade da rainha por estarem na casa 2 (ou segundo signo a partir do Ascendente).

O sistema de signos inteiros, como é empregado acima, é muito antigo. Com o passar do tempo, os Astrologos foram dando importância ao Equador para medir as casas, que já era muito considerado em técnicas preditivas como as direções primárias. Chegamos assim à época da frase que deu início a essa artigo, escrita por Ali Ben Ragel no seu tratado de Astrologia Natal. Neste exemplo, vemos que Ben Ragel está claramente juntando na interpretação os dois sistemas. Com esse achado, percebe-se que usar um sistema de casa em detrimento do outro é uma falsa dicotomia, porque ambos podem ser usados ao mesmo tempo, fornecendo dados que não podem ser encontrados com o uso isolado!

Se analisarmos a frase, percebemos duas ênfases: uma na fama, e outra na quantidade. Ragel nos mostra dois exemplos extremos: um no qual a pessoa é famosa por ter muito dinheiro, mas na verdade vive endividada. O segundo exemplo é aquele no qual a pessoa tem muito dinheiro e ao mesmo tempo pouca gente sabe que ele tem… Eu prefiro a segunda sitação, e vocês?

A distinção que o autor enfatiza é simples. Parece que uma casa angular no sistema de signos inteiros indica proeminência social, mas se essa casa está cadente no sistema de signos quadrantes, a quantidade relativa ao tema é pequena.

De posse da afirmativa acima, observe o meu mapa novamente e perceba que o Sol está cadente pelo sistema de quadrantes (Alcabitius), porém está angular pelo sistema de signos inteiros. Isso promete muita fama nos assuntos solares, porém pouca quantidade. Como o Sol rege o quinto signo e se encontra no primeiro, as crianças do nativo prometem mais amor do que podem cumprir ao pai, pois esse amor e dedicação seria muito mais forte se o sol estivesse próximo ao Ascendente.

Essa é uma maneira de encarar a dicotomia criada recentemente com o estudo de técnicas antigas. Nós só poderemos saber como a técnica era realmente usada com muitos autores antigos em revisão. Espero que esse artigo tenha ajudado você.