Astrosphera

Ancient astrological technics uncovered.

Archive for July, 2007

Rio Nilo, berço do zodíaco (e da confusão)

A economia do Egito antigo dependia imensamente do Rio Nilo. Sua enchente era fundamental para as populações, as quais encontravam ali alimento farto. A enchente era o impulso primordial para todo um ciclo econômico. Os passos seguintes a ela consistiam num desdobramento da enchente: envolvia a fertilidade da terra, o crescer dos gêneros agrícolas, a colheita e o comércio destes. Este ciclo, segundo Ciryl Fagan, é dividido em 12 etapas. Simplesmentes esses ’12 passos’ constituem num embrião do zodíaco, delineado no Egito antigo e que se espalhou e sofreu modificações em diferentes culturas, cuja disseminação se deve em grande parte a Alexandre.

Temos aqui ainda um zodíaco sem as qualidades ditas essenciais de cada signo, hoje consolidadas na nossa cultura ocidental. Um exemplo bastante didático disso seria o signo de Aquário. No momento em que se estabeleceu o zodíaco egípcio, a ascensão acrônica (quando a constelação ascende no horizonte em oposição ao sol que se põe) de uma determinada constelação coincidia com a enchente do Nilo. Houve portanto a construção de uma relação entre os eventos celestiais e terrestres. Construiu-se a imagem da constelação similar a de um homem carregando uma ânfora cheia d’ água. No Egito, é representado por Hapi, o deus jovial do rio Nilo, que jorra água de suas duas urnas, representando a enchente do Rio que inunda as terras do Baixo e do Alto Egito. Aquário, nesse contexto, se identifica com o rio em questão, e Ptolomeu – segundo Fagan – diz que este signo rege locais perto de rios. No ano de 1000 antes de Cristo, a estrela Sirius ascende acronicamente no momento em que há a enchente. Esta estrela se situa hoje na altura do signo tropical de Câncer. Como o sol está em oposição a constelação de aquário, isso implica que o astro rei está em Leão, e o evento ocorria em meados de Julho.

O que foi exposto acima pode se constituir num excelente argumento a favor do zodíaco tropical. A enchente do Nilo até hoje acontece em Julho, com eventuais atrasos ou adiantamentos, mas isso se mantém constante ao longo dos séculos. Se o zodíaco sideral estivesse certo, a enchente do Nilo aconteceria sempre em sincronia com o alinhamento do sol em oposição à estrela Sirius, que devido ao movimento de precessão equinocial se encontra agora em câncer. Ou seja, a enchente do Nilo teoricamente ocorreria quando o sol estivesse em Capricórnio, quando ele se opõe a Sírius! A enchente ocorreria em dezembro ou Janeiro, e não mais em julho!

Dessa forma, se utilizarmos o zodíaco como um reflexo dos eventos periódicos terrestres, o estabelecimento de um zodíaco fixo se encaixaria melhor nos seus propósitos. Conclui-se então que as estrelas fixas não teriam relação com o zodíaco, como acontece hoje e se mantém desde a astrologia medieval.

Apesar desse elegante argumento a favor do zodíaco tropical, existe o outro lado, o contra argumento dos sideralistas. Se o zodíaco deve refletir o que acontece na terra, então devia-se inverter a ordem dos signos no hemisfério sul, pois assim teríamos o signo do verão alinhado com o verão em si! Existe até mesmo um dessa posição que volta e meia posta em comunidades do orkut, mas que infelizmente não consegue muitos adeptos.

Algumas idéias são tratadas como grandes heresias a priori. Perde-se muito quando não as testamos por mero dogmatismo, mas também muitos astrólogos tem posições sociais importantes a perder caso entrem em contradição com suas publicações astrológicas do passado. Com o passar dos anos, Saturno cristaliza as convicções, como diria Raul Pompéia, ossificando-as na espinha inflexível do caráter.

Com tantas contradições entre os diferentes zodíacos, porque a astrologia funciona? Existe um sistema de coordenadas no qual grande parte dos astrólogos baseiam suas previsões, que divide o céu em 12 casas. Esse sistema é em média muito homogêneo nas diferentes escolas de astrologia. Tanto um hindu quanto um americano interpretará o mesmo mapa como possuidor de marte na casa sete, porém um dirá que esse marte está em libra, enquanto o outro dirá que ele se encontra am virgem. A primeira parte da delineação (posiçao do planeta nas casas) atinge um consenso que se dissipa na segunda parte, quando se aplica os diferentes zodíacos utilizados pelos dois astrólogos. Segundo a teoria astrológica, o planeta dentro de um signo possui um determinado dispositor que indicaria a causa deste. A cúspide de uma casa obedeceria à mesma dinâmica: seu regente indicaria como os assuntos dessa casa se misturam com outra. Com a mudança de signo pela troca de zodíacos, há uma clara troca de regentes. Se no zodíaco tropical áries rege a minha casa 2, no zodíaco sideral ela é regida por Peixes. A mudança de Áries para Peixes implica na mudança de Marte para Júpiter, ou seja, as finanças tomam rumos completamente diferentes! Por isso que estudar o zodíaco é fundamental para atingirmos uma representação mais verossímil dos eventos terrestres.

O mapa de Vettius Valens

Vettius Valens, chamado na Itália de Vettio Valente, foi um astrólogo que viveu no que hoje corresponde ao território da Turquia, na antiga cidade de Antioquia (chamada de Antakaya), famosa para quem estuda a Bíblia pela passagem do apóstolo Paulo por aquelas bandas. Abaixo nós publicamos seu mapa natal descrito por ele mesmo, o que gera algumas controvérsias do nosso interesse para este artigo:

A seguir, postamos o mapa natal que a maioria dos astrólogos do ocidente fará com a data que Vettius deu em sua Antologia, usando o zodíaco tropical:

O único planeta que difere nos dois mapas é mercúrio. Ao fazer o mapa tomando como referencial o zodíaco tropical, mercúrio está nos últimos graus de Capricórnio. Aplicando a maioria dos zodíacos siderais (Raman, Fagan-Allen, Lahiri, etc.) para os mesmos dados, mercúrio está no signo de Aquário. Será que Vettius corrigia seus mapas respeitando a precessão equinocial?

Nos textos antigos, é comum os astrólogos publicarem mapas com dados errados, porém a diferença é em graus, e geralmente eles permanecem no mesmo signo. Por exemplo, um astrólogo medieval pode dizer em sua obra que vênus está em 23 de gêmeos, quando na verdade estava a 21 graus do mesmo signo. Enquanto nossas efemérides são baseadas em cálculos e observações da NASA, muitos astrólogos dependiam de instrumentos hoje rudimentares, como um Astrolábio. Aqui, contudo, nós temos um erro que pode não ser aleatório, pois a única diferença entre os mapas é mercúrio.

Erros de graus são razoavelmente tolerados para nós, desde que sejam dentro do mesmo signo e casa, pois assim o planeta mantém seu dispositor e suas representações. Nos tempos de Valens, contudo, o erro por mudança de signo era muito mais grave. Isso implicava na mudança daquilo que o planeta representa, já que Vettius empregava o sistema de signos inteiros, no qual uma casa corresponde a todo um signo, do primeiro ao trigésimo grau. Em outras palavras, mercúrio em capricórnio pertenceria ao quinto signo-casa; mercúrio em aquário, ao sexto signo-casa. Mais grave ainda é perceber dois estilos de vida completamente diferentes pela mudança dessa posição, já que mercúrio é regente do ascendente de Valens.
O significado das casas na astrologia helenística manteve-se em grande parte na subsequente astrologia medieval, com algumas mudanças que serão apontadas. Para mostrar o quão grave pode ser para a delineação esse hipotético erro de Valens, vamos delinear esse mercúrio em ambos os mapas. O regente do ascendente na casa cinco inclina o nativo à busca de prazeres e ao gosto pelas missões diplomáticas (a casa cinco rege embaixadores), além do amor às suas crianças. O regente do ascendente na casa seis inclina o nativo a uma vida de trabalhos penosos, sendo uma indicação clássica de escravidão. Na astrologia grega, contudo, a casa seis ganha outra representação: conflito. Nativos com essa posição se inclinam a irritabildiade e a brigas constantes. É a casa dos inimigos, tópico este que passou na era medieval a ser representado pelas casas 7 (para inimigos declarados) e 12 (para inimigos secretos).

Conclusão: Sendo um bom astrólogo, Valens não poderia errar a posição do regente do mapa, pois ela é imprescindível para se avaliar as circunstâncias do nativo e seu estado de espírito. No sistema de signos inteiros, simples mudança de signo acarreta na alteração da interpretação do mapa. Concluímos que ele adotava em suas análises o zodíaco sideral, e por conta disso continuamos investigando outros indícios que apareçam em mapas antigos.

Apesar da investigação do zodíaco sideral ser um problema moderno, podemos encontrar indícios em textos antigos, não uma definição sobre qual zodíaco é o correto porqu,e como disse anteriormente, a precessão na época de Valens era muito pequena em relação aos dias atuais, sendo pouco considerada portanto. De uma forma ou de outra, o mapa natal de Vettius Valens pode ser um forte indício de que o zodíaco sideral era aplicado.

Zodíaco Sideral – achados espantosos

A pesquisa sobre o zodíaco sideral consiste em verificar se este geraria resultados mais dramáticos no estudo do mapa natal. A astrologia medieval é conhecida pela confirmação de um posicionamento usando diversos outros. O posicionamento de uma parte árabe ou regente isoladamente não é suficiente para concluirmos nada sobre o indivíduo, o que gera grande frustração no astrólogo. Em verdade, o que me mantém fiel a astrologia medeival não é o estudo da mapa natal, mas sim a grande acurácia preditiva, que supera diversas outras técnicas que estudei até hoje. A nossa grande esperança é descobrir se o zodíaco sideral simplicaria mais essa análise e tornaria a astrologia medieval precisa no estudo do mapa natal.

A dicotomia entre sideralismo e tropicalismo é um problema tipicamente moderno. Lendo os textos antigos, fica impossível obter uma diferenciação entre os dois zodíacos. Todos os autores nos quais a astrologia tradicional se baseia praticaram a arte em épocas nas quais havia pouca diferença entre o zodíaco sideral e o tropical. Se construirmos um mapa para o século nove, época de Abu Ma’shar, a diferença entre o zodíaco sideral e o tropical era de aproximadamente nove graus. Ptolomeu aparenta ser o mais criterioso dos autores, mesmo assim ele oferece uma taxa de precessão errada, na qual muitos astrólogos que se sucederam a ele se basearam. A precessão equinocial fez com que a diferença entre os dois – chamada de ayanamsa – chegasse hoje a marca de 25 graus, quase um signo inteiro. Pensar ou não nessa questão é um problema moderno, por isso é bom que não nos livremos da responsabilidade de explorá-lo sem nos enganarmos com desculpas que facilitem a análise a priori, mas que não produzam bons achados no confronto com o cliente.

Se pudesse criar uma “metodologia de pesquisa do zodíaco sideral”, eu pegaria mapas de pessoas que nunca vi na minha vida, conhecendo-as simultaneamente ao conhecimento mapa sideral delas. Uma alternativa a isso seria pegar mapas de pessoas conhecidas de amigos seus, estudantes de astrologia como você, e ouvir os comentários a respeito da vida desses indivíduos, com as devidas autorizações dos donos do mapa, é claro.


O mapa acima é um exemplo disso. Iniciei seu estudo usando o zodíaco sideral construído por Ciryl Fagan e Garth Allen, o zodíaco Fagan-Allen, que marca o ponto vernal (o equinócio de primavera no hemisfério norte) a 06 graus e 39 minutos de peixes no início do século XX. O mapa acima, contudo, não usa o zodíaco Fagan- Allen, mas sim o mais comum na índia e que possui suas efemérides patrocinadas pelo estado, chamado de Lahiri.

Os achados dramáticos desse mapa foram percebidos enquanto conversava na frente do computador com um amigo meu, apreciador da astrologia tradicional, especulando sobre a viabilidade do zodíaco sideral, ansioso por respostas mais claras. Foi então que ele me contou alguns fatos sobre sua amiga, que nos autorizou a análise da sua natividade, com preservação de sua identidade e dados natais.

Não sabemos de muitos detalhes da vida dessa mulher, apenas algumas coisas tristes e alegres que meu amigo coletou de eventuais conversas. Uma delas foi chocante, pela capacidade do mapa natal representá-la com precisão, sem recorrer a cartas alternativas como revoluções solares ou progressões.

A nativa contou-lhe sobre seu filho, um homem casado, sem filhos, com dois problemas sérios. Quando eu os ouvi do meu amigo, foi como se um trovão ressoasse pelo meu cérebro. Os eventos que serão descritos abaixo podem ser claramente percebidos no mapa natal pelo análise do mesmo símbolo. Não sei se você os identificou imediatamente, mas talvez tenha dado com isso uma olhadela na casa cinco do mapa. Ali se encontra Marte em Libra.

Marte em Libra é citado por Bonatti como “excesso de coito levando a prejuízo social”, mas aqui ele se encontra conjunto ao nodo sul, que possui a qualidade de saturno. Nesse caso as descrições se igualam a uma conjunção de marte com saturno. Quando isso acontece, Bonatti diz que “o nativo não será voraz nos prazeres carnais, se importando pouco com eles”. Não sabemos a empolgação do seu filho quanto a questões sexuais, mas as informações compartilhadas representam muito bem a configuração acima. O filho da nativa mantém apenas ereções com sua esposa, não conseguindo gozar. Bloqueios e impedimentos são regidos por Saturno. Conjugando o prejuízo social de marte em libra com a frieza de marte-saturno, temos alguém cujo casamento quase desmoronou devido a problemas sexuais. Marte nesse caso rege a casa onze, que para o filho representa a esposa e mulheres em geral. Ter o regente da casa onze na cinco nos ajuda a perceber que o problema tem relação com mulheres. A configuração está absurdamente sincrônica.

O segundo evento também é representado por marte na casa cinco. Marte em Libra está em detrimento, funcionando destrutivamente para o corpo e a mente do filho, a casa cinco. Já sabemos o quanto ele foi nocivo a identidade sexual do seu filho, prejudicando sua mente e auto-estima, mas o planeta vermelho aqui também dá o ar da graça em problemas de saúde física.

Segundo os textos clássicos, a parte do corpo atingida por doença é dada pelo signo no qual o planeta se encontra, mas os pesquisadores de astrologia médica concordarão que essa idéia é cada vez mais relegada a obsolescência por não trazer resultados consistentes. Eis que o zodíaco sideral vem para nos mostrar que todos os livros que nos antecederam podem estar certos…

O filho da nativa se submeteu a uma nefrectomia, ou seja, retirou um rim devido a problemas glomerulares. Quando você conhece a melothesia zodiacal, aprende que os rins são regidos por libra, pois essa foi exatamente a parte do corpo lesada por marte ao usarmos o zodíaco sideral!

Se compararmos a posição de marte no zodíaco tropical, o mais comum no ocidente, veremos que ele reproduz somente a doença, mas não com a mesma exatidão: ele se encontra em escorpião, dignificado e regendo a casa 10, que representa doenças do filho. Não podemos aqui supor com a mesma facilidade sobre nenhum problema sexual do filho da nativa, tampouco a parte do corpo lesada por doença. Teríamos de revirar o mapa natal para encontrar (se encontrássemos) alguma prova. Os astrólogos tropicais (eu incluso) diriam que seria preciso levantar uma revolução solar para o ano em que o filho adoeceu, e mesmo assim teríamos de nos desdobrarmos para descobrir, através de derivações de casas, o que aconteceu.

Este artigo foi uma observação, algo que seria chamado em medicina de “relato de caso”, mas que é surpreendemente clara, num mundo de achados e interpretações vagas e inconclusivas. Não quero concluir com isso que o zodíaco sideral é o que produz os achados mais consistentes, antes apenas mostrar minha fascinação com esse achado primário.

diferenças entre a casa 3 e a casa 9 na prática

As casas são comumente classificadas por eixos, como se duas casas opostas fossem sempre complementares em significação. Na verdade, não é sempre assim: a casa dois é dinheiro e a oito, morte. Uma nada tem a ver com a outra. A mesma coisa com a casa 11 (amigos) e a cinco (filhos e prazeres). Essa classificação por eixos é mais uma generalização que os astrólogos fazem para ensinar, coisa que por vezes tende erros, mas com certeza isso partiu da percepção de algum eixo de 2 casas que realmente funcionasse como um conjunto. Provavelmente, devia ser o eixo 3-9. Ambas as casas falam de viagens; ambas falam de religião. Como diferenciá-las? Eis o que veremos nesse artigo.
Diz-se que tanto a casa 3 quanto a 9 falam de religião e viagens. A primeira trataria de religiões populares, que não sejam aceitas pelo estado. Lembre-se que estamos falando da era medieval, antes do estado laico. Uma adaptação hoje em dia podia ser considerar a casa 3 como a representante do paganismo e religiões que tem a lua como divindidade, como a bruxaria moderna, Iemanjá, etc. Lembre-se que a casa 3 é o local no qual a lua se regozija.
A casa 9 falaria de religiões aceitas e difundidas pelo estado, as mais comuns e que possuam algo como um ‘clero’. Como essa casa é o gozo do sol, podem ser religiões masculinas e patriarcais, como o judaísmo e o cristianismo. Também é a casa do parlamento e da universidade.
O que a nossa experiência tem confirmado? Independentemente da pessoa ser umbandista ou católica, a casa nove sempre é religião, seja ela matriarcal ou patriarcal. Além de religião, ela fala de viagens para o exterior ou da entrada na universidade. A casa 3 não tem sequer algum resquício religioso nas análises que empreendemos. Ela vai se referir a veículos, ao modo pelo qual você viaja, a pequenas viagens e a irmãos. Pelo fato da lua ser o planeta mais rápido do céu, era evidente que teria muita relação com os objetos dessa casa.
Na minha prática, é nítido que a casa 9 fala do local pra onde você vai, enquanto a 3 diz como você chegou até lá, as condições do carro, do trânsito, etc. Parece que pessoas com predomínio da casa três estão muito preocupadas em se deslocar, não importa para onde. Além disso, sofrem mais problemas com veículos.
Um amigo meu tem Saturno e Júpiter na casa três, recebendo quadratura por signo de marte em câncer na casa 1. Ele adora fazer trilhas e ir para caminhos de alto risco. Fez questão de comprar uma bela pickup. A grande motivação de vida dele é por os pés na estrada e enfrentar riscos de morte! Isso me faz lembrar da minha incursão pela astrologia védica, na qual aprendi que a casa 3 rege a coragem. Pessoas com planetas pessoais e maléficos na casa 3, segundo os hindus, seriam muito ousadas. Não experimentei isso em outros mapas, mas no caso do meu amigo funciona muito bem, obrigado. [É importante citar que os hindus não analisam somente o planeta, mas a casa da qual ele procede. Um maléfico na casa 3 que tenha regência sobre uma casa ruim (casas 12, 6 e 8) pode debilitar a coragem, e tudo que foi dito aqui cai por terra].
Qual seria a ligação entre coragem e viagens? Na era medieval, as inimizades entre os reinos e a completa ausência de intervenção do estado em algumas regiões tornavam as viagens bastante perigosas. Não à toa que marte é significador de viagens. O pior é que isso se mantém até hoje, com toda segurança que dispomos pagando impostos. A boa posição de um significador de um assunto tende a mostrar seus significados com grande intensidade na vida da pessoa: Por conta disso, pessoas quer eu conheço com marte viajam muito. Os hindus também dizem que marte na casa 1 ou 7 faz o nativo morar fora de sua cidade natal, e aqui entra a estranha participação da casa sete no que tange a viagens.
Quando estudamos a casa 7, está longe dos significados mais comuns desta as viagens e o exílio, mas à medida em que estudamos astrologia grega e védica, fica cada vez mais frequente essas atribuições. Nessas horas vem o comichão racional, exigindo uma explicação para tudo. Talvez essas atribuições tenham sido derivadas da astrologia mundial, que preconiza a casa 1 como o país estudado, enquanto concebe a casa 7 como países vizinhos e inimigos. No presente momento, não vejo uma razão clara para isso. O conhecimento desta interpretação lança novas probabilidades de análise: será que o regente da casa 7 na casa 1 representaria que a parceira do nativo é estrangeira e vem morar com ele?
São perguntas ainda muito incipientes, mas se estiverem corretas eu vou morar no exterior ou em outro estado: tenho dois maléficos na casa sete, um deles regendo o ascendente.

O zodíaco sideral

A grande diferença entre a astrologia védica e a ocidental é o zodíaco sideral, objeto de nossas reflexões nesse artigo.
O zodíaco foi criado baseado na maioria das constelações pelas quais o sol passa em seu trajeto, no qual o nosso ano de 365 dias é baseado. O nome da linha que o sol percorre se chama eclíptica. É claro que tudo isso é um fenômeno visual, pois sabe-se hoje que a Terra gira ao redor do sol. Mesmo assim, a astrologia lida com o visível, e vamos nos manter a esse dogma por praticidade.
A eclíptica foi dividida em 12 porções iguais. Cada porção é chamada de signo, e cada um destes recebeu o nome de uma constelação. Apesar dos signos receberem o nome das constelações, ele não é em si constelacional. Se ele fosse, a divisão por 12 não seria em partes iguais (pois algumas constelações são maiores que outras) e haveria um “vácuo” na eclíptica no trecho correspondente à constelação do Serpentário (ou Ofíuco).

Agora que você sabe o que é o zodíaco, vamos a polêmica que divide o mundo. Tanto o zodíaco sideral (usado pela astrologia védica) quanto o tropical (que grande parte do ocidente usa) consistem em divisões de 12 partes iguais da eclíptica, com os mesmos nomes e regências planetárias no esquema tradicional. Qual é a diferença? Toda a diferença é oriunda de um movimento do eixo de rotação da terra. Esse movimento é chamado de precessão equinocial.
A Terra gira de um modo complexo. Ela seria como um pião solto no espaço. Para nós no momento existem três movimentos importantes:
  • Ela gira em torno de si, o que gera os dias e noites (rotação).
  • Ela gira em torno do sol e isso gera o ano (translação).
  • Existe mais um movimento, importante para a astrologia: O eixo de rotação da terra gira em torno de um círculo imaginário (veja o círculo branco mais superior da foto). À medida em que o eixo de rotação da Terra gira dentro desse limite, o equinócio (início da primavera) acontece no mesmo tempo em que o eixo de rotação se alinha a diferentes estrelas com o tempo. A esse movimento, dá-se o nome de precessão.
Há cerca de dois mil anos atrás, a primavera do Hemisfério norte começava quando o sol entrava em conjunção com as estrelas que formam a constelação de Áries. Por isso se convencionou que Áries é o signo primaveril, o primeiro signo. Hoje em dia, a primavera começa quando o sol entra em conjunção com estrelas do início da constelação de peixes. Ao perceber que este movimento faz o ano começar cada vez mais para trás, deu-se a ele o nome de precessão.

De todos os três movimentos citados, o movimento de precesão é o mais demorado: dura cerca de 27.000 anos para que o eixo complete uma volta. Ele é o grande responsável pela diferença atual entre o zodíaco sideral e o tropical.

Agora que você sabe todo o processo, vai entender que dois grupos de pessoas lidam de modos diferentes com o mesmo fenômeno.
A maioria dos astrólogos que você conhece acham que o zodíaco só é importante por marcar eventos que acontecem na Terra, as estações do ano. Dessa forma, o zodíaco tropical se baseia nisso: Áries sempre será alinhado com a primavera, e não com as estrelas da constelação homônima.
Já os sideralistas pensam diferente: Áries, o signo, tem que se alinhar com a constelação sim, desprezando o referencial da primavera, e para que isso ocorra anualmente precisamos fazer cálculos para encontrar as posições planetárias corrigidas da precessão equinocial. Assim, para os astrólogos sideralistas, áries começa cada vez mais tarde no ano, porque eles escolheram ligar o signo a estrela que inicia a primeira constelação.

Talvez você esteja pensando qual é a implicação prática disso tudo. Simples. Se você tem o sol no signo de Áries, pode ser um pisciano para os sideralistas!

O mesmo fenômeno sofrerá todos os planetas de sua carta: ascendente, lua, marte, vênus, etc. Com a mudança (sempre para o signo anterior), mudam-se as regências planetárias, as regências das casas, e isso é muito importante para todo o tipo de astrologia que se pratica.

Os astropsicólogos baseiam suas interpretações em grande parte nos signos. Se eles mudam no mapa, todos os achados teriam de ser repensados.

A astrologia medieval depende em grande parte das regências planetárias. Se eu tenho o Sol em Áries, o sol é regido por marte, sendo este a causa das ações do sol. Com a precessão respeitada, meu sol seria em peixes. O que é Solar no meu mapa passaria a ter como causa júpiter, planeta regente de peixes!
Mas o que os astrólogos tropicalistas experientes dizem sobre o zodíaco sideral? As opiniões aparentam ser reações dogmáticas a uma teoria relativamente nova, como se eles tememessem entrar em contradição por sempre terem usado o zodíaco tropical. É muito difícil confiar nessas opiniões, pois grande parte dos críticos do tema possuem muitos livros publicados que usam como referência o zodíaco tropical. Afirmar um zodíaco em detrimento do outro implicaria no desuso de tudo que foi dito nos seus livros.
Já vi muitos astrólogos mudando de lado, do tropical para o sideral. O contrário eu nunca vi acontecer. Alguns permanecem até hoje num limbo de incerteza, ora usando técnicas védicas (siderais), ora técnicas ocidentais (tropicais). Frente a tudo isso, eu não poderia deixar de me manifestar.
O zodíaco sideral começou a ser investigado no ocidente pelo irlandês Ciryl Fagan. O ‘sideralismo’ – nome atribuído aos astrólogos ocidentais que usavam a precessão – teve colaboradores ativos até a década de setenta. Parece que grande parte dos astrólogos que defendiam o sideralismo foram absorvidos pela astrologia védica, levando esse movimento praticamamente a extinção.
Richard Houck foi um dos astrólogos ocidentais atraídos pela astrologia védica. Vejamos os seus argumentos sobre o zodíaco sideral, extraídos do livro “The Astrology of Death” (os negritos e chaves do texto são meus):
Após cerca de 15 anos de estudo intensivo eu concluí que, ao menos para os meus propósitos, o zodíaco tropical ou Ocidental é zodíaco errado, isto é, o menos produtivo. Hoje eu uso o zodíaco sideral em todas as minhas conclusões(…) Grosseiramente, esses dois zodíacos [o sideral e o tropical] se sobrepõem em 25% dos casos [o fim de áries, por exemplo, se mantém como Áries em ambos os zodíacos. A mesma coisa com todos os signos em seguida](…)

Na minha experiência, uma forte prova de que o zodíaco sideral é o seu consistente poder objetivamente demonstrado das posições de exaltação, domicílio e queda. Uma leitura atenta da literatura astrológica tropical mais comum revela claramente que há pouca consistência interpretativa do uso dessas qualidades práticas de poder [ele se refere às dignidades] pela simples razão delas não funcionarem tropicalmente de um modo objetivo e consistemente demonstrável – exceto quando eles se interpõem ao zodíaco sideral.

Por exemplo, Vênus em áries é supostamente um posicionamento detrimental, sendo oposto ao signo que [vênus] rege. Mesmo assim [no zodíaco tropical] é difícil de falar mal desse posicionamento de vênus porque, como questão prática, pessoas com esse posicionamento geralmente se dão muito bem com Vênus [isto é, com as coisas que ela representa no mapa natal] porque ela tem a chance de 75% de estar no signo sideral de Peixes. Não falo de estados de espírito ou temperamento que estejam sujeitos a percepção seletiva e interpretações suaves. Digo que esta função benéfica é claramente observável na sua vida diária por outros ao seu redor. A mesma coisa poderia ser dita de vênus nos primeiros 23 graus do [signo] tropical Escorpião, o qual é na verdade o tropical libra, e muitas outras combinações similares(…)

Minha decisão de usar o zodíaco sideral não é particularmente escolástica, histórica, pessoal ou filosófica. Ela é derivada da “escola de olhar ao redor”.
No momento em que escrevo este texto não tomei uma decisão definitiva a respeito de qual zodíaco usar. Eu me enquadraria no “limbo” citado no início, que oscila entre astrologia védica e ocidental. Há ainda uma coisa que nunca vi astrólogo algum fazer, que consiste em interpretar um mapa feito no zodíaco sideral usando as regras da astrologia medieval. Teríamos êxito nesse empreitada? Será que a interpretação ficaria mais evidente? Com todas as evidências que coletei, seria um dogmatismo estéril não estudar o zodíaco sideral com mais atenção, e é isso que farei.

Exemplo de interpretação medieval

Vou reproduzir aqui a interpretação de Johannes Schoener sobre a Genitura de Maximiliano I, Imperador do Sacro Império Romano. Vamos para o tópico que trata de inimigos secretos.

Exemplificação do nativo sobre inimigos secretos

Primeira conclusão: Ele terá muitos inimigos. Isso é tirado do fato de Saturno [ser] Almuten dos Significadores de Inimigos, misturado ao regente do ascendente por aspecto de quadratura. O mesmo é afirmado [do fato] do lorde do ascendente e da casa XII ser o mesmo planeta.
Segunda conclusão: seus inimigos serão encontrados entre nobres poderosos. Isso é coletado do Sol recebendo o senhor da décima segunda [casa] pela conjunção [por aspecto] com saturno, o Almuten dos inimigos nos ângulos e em sua própria dignidade [de domicílio].
Terceira conclusão: Seus inimigos secretos facilmente entrarão em acordo com ele porque o regente do ascendente se aplica ao regente da casa 11 em trígono com perfeita recepção.
Quarta conclusão: Ele prevalecerá sobre todos que tiverem inveja dele, ele os esmagará e não serão capazes de de fazer mal algum a ele, mas ele mesmo os impedirá. O Almuten da casa 12 retrógrado argumenta isso.
Quinta Conclusão: O nativo será impedido em seus negócios, ele terá ansiedade e tristeza devido a inimigos, e sofrimento. A segunda regente da triplicidade da casa 12 significa isso, vênus retrógrada na oitava [casa]. A dodecatemória de Saturno no domicílio de Marte significa o mesmo.
Sexta Conclusão: De qualquer forma, no fim das contas ele será afortunado contra seus inimigos contra seus adversários pela sua própria sagacidade, devido a boa condição do terceiro regente da triplicidade da décima segunda casa. Além disso, a fraqueza da Parte dos Inimigos por meio dos raios da oposição de marte confirmam esse assunto.”

Talvez você não saiba o que significam alguns termos, mas o importante é perceber o raciocínio subjacente a interpretação. O astrólogo medieval não se baseava apenas num planeta para analisar um assunto da vida do nativo; como você percebeu, para cada casa existe mais de um regente, e pela condição deles no mapa nós percebemos os altos e baixos de um tema, de uma área da vida; Enquanto uns planetas podem referir perda e tristeza, outros demonstram vitória. Tudo depende da condição de cada planeta. O estabelecimento dessa maneira de se analisar confere realidade e precisão ao tema natal. Não sofremos somente problemas nas casas com o regente em mal estado, porque existem outros regentes que podem ajudar.

Escolhi a interpretação dos inimigos secretos porque se trata de um tema negligenciado na astrologia moderna, além de conter uma pegadinha para o iniciante. Talvez as pessoas pensem que um regente da casa 12 em bom estado indique inimigos bonzinhos. Muito pelo contrário! A força dessa casa indica inimigos poderosos! O assunto de uma casa em bom estado prospera seus significados!

Estabeleça sua interpretação dessa forma. Se o regente da casa 1 está na casa sete em mal estado, então o nativo pode buscar relacionamentos e ter problemas com eles. Se o segundo regente da casa 1 está em bom estado na casa 10, contudo, ele pode encontrar uma compensação para os relacionamentos fracassados na carreira.

É assim que se analisa. Para saber os regentes, consulte as tabelas tantas vezes mencionadas nos meus artigos.

Problemas com Casas Derivadas – Parte 2

Continuando neste post o tópico sobre casas derivadas, vamos entender o sistema mais simples, com aplicações tanto na astrologia natal quanto na horária. Esse sistema consiste em referenciar uma casa como a primeira, e colocar todas na sequência em função desta.


Suponha que eu queira saber da vida do meu pai através do meu mapa. No sistema mais simples de derivação, eu busco a casa quatro e a transformo na primeira casa, que dirá sobre o corpo e temperamento do pai. A segunda casa a partir da casa quatro (ou seja, a casa cinco) seria o dinheiro do pai. Agora que você descobriu a simplicidade do sistema, vamos as controvérsias, que são relativamente simples também.


Existem casas que se referem a mais de uma pessoa, notadamente um grupo. A casa três por exemplo, se refere a irmãos e vizinhos, pois a prática tem confirmado isso. Aflições ao regente da casa três trazem intercorrências aos irmãos, vizinhos e parentes, não me perguntem o porquê. A grande controvérsia é saber a hora de parar de procurar. Como assim?

Já ouvi que é possível saber como é a vida do primeiro irmão, o segundo, o terceiro… Assim como seu irmão é a terceira casa a partir da sua, o segundo irmão pode ser visto pela terceira casa a partir da terceira. Como eu tenho apenas um irmão, fica difícil investigar esse sistema. A grande controvérsia se origina dessa necessidade de se conhecer tudo a fundo (e infelizmente depois do fato…), pois a tradição védica tem uma visão bastante convincente que difere da ocidental.

Os hindus acreditam que a casa três representa o primeiro irmão que nasceu depois de você. Caso haja na família um irmão mais velho que você, ele não é representado pela casa 3, mas sim pela casa imediatamente anterior a sua, respeitando o “pulo” de uma casa, é claro. Dessa forma, a casa 11 representa o irmão mais velho. Se há um irmão mais velho que este, seria representado pela casa 9, duas casas atrás da casa 11. É preciso um exemplo para as coisas ficarem mais claras.


Se você é o terceiro de quatro filhos, as coisas ficariam assim: a casa 3 representaria o irmão que veio depois de você, o caçula. A casa 11 seria o irmão que nasceu imediatamente antes de você. A casa nove seria o irmão mais velho depois desse, o segundo na ordem familiar. Finalmente, o primogênito seria representado pela casa 7! Compare essa ordem com aquela ensinada no ocidente: Independente se você for o primeiro, segundo, terceiro, enésimo irmão, a casa três representa o primeiro irmão, o mais velho. A sequência dos irmãos é dada pelas casas ímpares do mapa: o segundo é a casa cinco, o terceiro a casa sete, e assim sucessivamente.


Já deu para perceber que a visão védica é inclusiva: O ascendente deixa de ser um acidente para ser incluído numa ordem maior numérica. Isso é muito interessante. Temos um outro exemplo desse pensamento inclusivo com o pai. A casa quatro, para os hindus, não pode representar o pai, mas sim coisas familiares, como o local onde você nasceu, suas raízes. Para a astrologia védica, a casa nove representa o pai, pelo simples fato da quinta casa a partir da nove ser o ascendente, o filho do pai, você!

Na verdade, vocês começam a perceber nesses posts a aproximação que o autor realiza nesse momento com a astrologia védica. Ainda não testei muita coisa, mas existem séculos de tradição que deixam o nosso pensamento perplexo. Se algo sobrevive por muito tempo, isso é fruto de uma cultura de preservação da tradição, combinado a experiência. Não podemos ter fé cega e crer que a astrologia védica é melhor pelo simples fato de não ter sofrido a interrupção que a astrologia ocidental sofreu com o iluminismo. Depois dessa reflexão, há a última controvérsia cercando as casas derivadas, da qual eu tratarei agora com um exemplo.

Acredito que a derivação de casas se refira a experiências que não sejam compartilhadas entre o nativo e a pessoa referida. Se eu não vivo a experiência, então a casa pode ser derivada. Tenho o exemplo que abriu esse tópico, a internação do meu irmão.

A internação do meu irmão poderia ser prevista no meu mapa natal, pois o regente da casa 3 está na casa 12, representando internações que os irmãos sofrerão. Mercúrio é significador essencial de irmãos mais novos, como realmente aconteceu. Algumas pessoas não entenderão essa minha conclusão: depois de tudo que falei de casas derivadas aqui, como a minha casa 12 sem derivação poderia se referir a meu irmão. Se a casa 12 é a décima a partir do meu irmão, ela representa a sua honra, e não sua internação! Quem chegou a essa conclusão, acertou, mas se esqueceu de um detalhe, que será discutido no próximo parágrafo.

De fato, meu irmão foi internado num hospital para tratamento de uma gastroenterite e a casa 12 funcionou para ele sem nenhum tipo de derivação. Se você percebeu, a resposta a este mistério teórico está no início do antepenúltimo parágrafo. Eu estava no hospital, participando de tudo. O dono do mapa estava vivenciando tudo. Eu experimentei a vivência hospitalar, junto ao meu irmão. Dessa forma, a casa 12 natal funciona tanto para mim quanto para ele. Se eu estivesse longe do processo, talvez a minha casa 2 seria a melhor indicada para representar o que ocorreu, já que ela é a décima segunda casa a partir da terceira casa natal. No presente momento, me parece que as derivações funcionem para eventos dos quais o dono do mapa não tem participação, que ele saberá através de conversas com as pessoas envolvidas. Há uma outra maneira de perceber as derivações que pode finalmente te libertar do medo de utilizá-las. A solução está nas analogias.

Neste blog, não é novo o exemplo de marte na casa 11 regendo a 6 com saturno. Interpretando essa configuração ao pé da letra, diria que a causa das doenças (saturno na casa seis) tem a ver com amigos e grupos (marte na onze), mas não foi isso que aconteceu. Existe uma coisa muito mais evidente e óbvia. Marte representa a morte do pai, porque a casa 11 representa a oitava casa a partir do pai (casa 4). A nativa entrou desenvolveu um processo depressivo logo após a morte do pai. Como eu poderia imaginar isso sem conhecer a dona do mapa?

Um ou dois erros nos ensinam a interpretar corretamentem, a tirar lições do que vemos. Marte é maléfico, ele tem muito mais a ver com eventos traumáticos do que pessoas amistosas. Um maléfico vai tirar da casa suas piores manifestações, mesmo que ele derive a casa. A pior derivação da casa 11 é o significado da morte do pai. Essa é a grande lição da interpretação de planetas em determinadas casas: se for um maléfico, espere o pior. Se for um benéfico em bom estado, espere o melhor.

Espero que este tópico tenha sido útil para que vocês não se percam na interpretação.

Problemas com Casas Derivadas – Parte 1

Em 1993, meu irmão ficou doente e em seguida teve um grande prejuízo psicológico em decorrência da internação. Ele tinha oito anos de idade. Cito meu irmão para procurar esse evento importante no meu mapa, pois é disso que as casas derivadas falam: você vira e revira seu mapa para saber como é a vida de pessoas que tem uma relação contigo.

É um problema estudar as casas derivadas, porque o estudo das casas sem derivação pode funcionar também e isso se enquadra numa das inúmeras contradições metodológicas das quais a astrologia dispõe para te sacanear. Qual é a pista? Qual é o fio da meada? Vamos citar exemplos que justificam a minha afirmativa inicial.

Não existe uma maneira única de derivar, o que deixa o procedimento irritante. Cita-se dois modos na literatura: aquele referido por Ptolomeu e outro, muito mais simples e que se origina do estudo da astrologia horária. Por motivo de sistematização didática, iniciemos por Ptolomeu neste post.

Método Ptolomaico de derivação
Em cada capítulo do Tetrabiblos que visa analisar a vida de pessoas ligadas ao nativo no mapa do mesmo, como seu pai, sua mãe e seus irmãos, Ptolomeu cita essa técnica. O texto de do autor de Alexandria é cercado de interpretações dúbias, e aqui não é diferente. Ele nos exorta a procurar no mapa o significador (planeta) da pessoa procurada, considerando-o como um Horoskopos (ascendente) e lendo o mapa para saber a qualidade de vida desse ser. A idéia é muito simples, mas para chegar até esse tal significador, você vai ter que rebolar.

Como escolhemos o significador Ptolomaico? Há algumas pistas que podem ser úteis. Não é comum no Tetrabiblos encontrarmos leituras de mapas baseados no regente da casa. Cada assunto tem uma maneira de ser analisado, e geralmente Ptolomeu usa o mapa todo para cada assunto, não uma única casa. Por exemplo, ao analise aar se o nativo terá irmãos ou não, ele pede para que procuremos a presença de benéficos nas casas X e XI, OU bons aspectos dos mesmos a lua ou vênus. A primeira pergunta que um astrólogo moderno faz é: que raios tem a ver a casa X e XI com filhos? Perceba que ele usa aqui duas casas apenas, mas em outras técnicas, o mapa todo é inquirido.

Pois bem, quando você encontrar o “planeta que aspecta a lua ou vênus ou se encontra nas casas X ou XI”, você saberá com certeza que o nativo tem irmãos. Continuando a leitura do tópico dos irmãos, após algumas análises sobre a proeminência social deles, Ptolomeu (para manter a tradição), pede para que transformemos o significador que representa irmãos como um ascendente. Sendo bastante simples, é bem provável que Ptolomeu esteja se referindo ao benéfico que encontrei aspectando lua ou vênus ou na casa X ou XI, e não o regente da casa 3! Vamos aplicar essa técnica no meu mapa natal.

Meu mapa é diurno, então tenho de procurar vênus para ver se algum benéfico o aspecta ou se encontra na segunda casa a partir dela (outro modo que não me referi anteriormente mas que é válido). além de Vênus, consulto da mesma forma as casas X e XI para encontrar benéficos ali ou aspectando a cúspide dessas casas. Eu tenho Vênus em aquário na XI, significando um irmão. Da mesma forma, tenho mercúrio em peixes, no segundo signo a partir de Vênus, significadora de mãe em mapas diurnos. Como Peixes é um signo fértil, isso fala de dois irmãos. Juntando esses dois planetas, temos o testemunho de três irmãos, porém Saturno está angular e faz quadratura com a casa X. De acordo com Ptolomeu, isso indica que não restou nenhum irmão vivo antes do meu nascimento. De fato, foi isto o que aconteceu.

Pois bem, como significadores de irmãos eu teria Vênus e mercúrio. Segundo o Tetrabiblos, portanto, devemos transformar esses planetas como ascendentes da minha carta. Como tenho dois irmãos mortos, é muito provável que ambos sejam representados por mercúrio em peixes, planeta que está em mal estado no mapa em signo duplo. Os dois morreram seguidamente, de formas muito sofridas para meus pais. Frente a isso, creio a priori que não será necessário ler mercúrio. Passemos a Vênus.

Vênus se encontra praticamente na cúspide da casa 11, logo esta seria convertida em ascendente do irmão. Isso nada mais é do que o tema do tópico, a derivação de casas. Para testar isso, penso na vida do meu irmão, com suas maiores dificuldades e facilidades. Tento ver se há uma relação clara entre maléficos e as casas derivadas. Felizmente, (ou não), creio que sim. Meu irmão apresentou atraso na sua formação de ensino superior, que poderia ser indicada pela presença dos maléficos na casa nove do mapa derivado. Trata-se de um evento recente e importante, que foi claramente mostrado pelo mapa. Resta-nos saber de outras áreas, mas aqui ficam os alicerces para que você tente fazer isso em casa.

Recapitulando: Através de técnicas específicas para cada assunto da vida, você precisa descobrir qual é o significador do ente querido que deseja investigar. Uma vez com ele, converta esse planeta no ascendente do seu mapa. Em seguida, interprete-o como sempre, mas todo seu mapa há de se referir a vida dessa pessoa, não a sua!

No próximo post, a derivação horária, bem mais simples que a de Ptolomeu.

minhas dúvidas atuais

Acredito que seria muito bom compartilhar minhas dúvidas com o leitor para que não se sinta sozinho. Muitos textos desse blog não devem ser lidos como um veredicto, mas sim como maneiras alternativas de se analisar o mapa que respeitem a consolidada tradição de séculos. Pode até acontecer de surgir uma boa resposta enquanto escrevo este texto. Será?

A minha principal dúvida no momento reside na aplicação do método que Zoller chama de “delineação árabe geral”. Nele, nós procuramos analisar a cúspide de uma casa, encontramos todos os seus regentes e procuramos aquele que se encontra em melhor estado para realizar os assuntos da casa.

Confesso que a delineação de algumas casas de acordo com esse método tende a ser complicada. O que significa o regente da casa três na casa dez em bom estado cósmico? Há várias interpretações. Poderíamos conectar comunicação e publicação de livros com a fama e negócios. Essa é a posição que consta no mapa de Robert Zoller. Ele tem vênus na casa dez, no signo de Sagitário. Ele é reconhecido pelo seu curso e palestras que deu em todo o mundo, divulgando a astrologia medieval. O complicado mesmo é entender o que vênus, um planeta que representa amor e mulheres, tem a ver com escrita e astrologia medieval, e aqui entra em cena a minha segunda dúvida: da natureza dos planetas conjugada a interpretação das casas.

O que eu vejo nos textos de astrologia tradicional é bastante recorrente. Em grande parte deles, ignora-se a simbologia do planeta. Este se torna um reles emissário de uma casa, seja ela boa ou má. No exemplo acima, Vênus rege Touro e Libra, tendo participação com as casas três oito, respectivamente. Na maioria das vezes, portanto, as análises medievais tendem a considerar vênus como emissária da morte e da comunicação e viagens. Apesar dessa determinação, vênus tradicionalmente se inclina mais a representar mulheres, sexo e prazeres. Que o grande prazer de Zoller é a astrologia, isso fica claro, mas ninguém estuda astrologia por dever. Vênus nesse caso nada tem a ver com as casas que rege.

Essa minha dúvida tem muito a ver com um assunto abordado no curso do Zoller: os planetas se manifestam pelos filtros dos signos e das casas. Imediatamente depois de ter escrito a frase anterior, vem a minha mente as delineações de Firmicus Maternus acerca dos planetas benéficos e maléficos. As interpretações antigas são bastante dissociadas do papel mais comum de um planeta na modernidade. Vênus na casa um em mapa noturno, para Firmicus maternus, implica no recebimento de honras para o nativo e o tornaria querido entre pessoas influentes do reino. Perceba que as questões sexuais estão fora da interpretação. Vênus não seria sexo? Porque Firmicus não diz que o nativo é libidinoso?

A melhor resposta para a pergunta anterior é essa: Vênus, isoladamente, não é nada que você possa supor, logo é errado dizer que ela representa sexo e mulheres. Ela indicaria isso se estivesse numa casa determinada a sexo ou mulheres, por ser um planeta feminino. O planeta fora de uma casa e de um signo é algo completamente amorfo. Uma nota musical precisa estar inserida numa clave para que eu possa chamá-la de dó ou fá. A clave, portanto, determina a nota. A mesma coisa com o planeta. Fora das casas e dos signos, ele não é capaz de representar nada. Para os moderninhos, ele seria energia que ainda não se materializou. As manifestações venusianas dependerão da casa onde ela se encontra.

Frente a esses raciocínios, muito da interpretação dessa vênus de casa dez depende de toda a vida de Zoller, nos seus detalhes mais íntimos, não somente carreira. A casa dez representa a mãe, logo vênus tem muito a ver com o feminino encarnado na figura materna. Isso é uma boa pista. Sua regência sobre a casa três poderia indicar que os irmãos ou irmãs de Zoller tinham uma estreita dependência de sua mãe. A casa três para a mãe é a sexta, e dessa forma poderíamos interrogar se a mãe do astrólogo sofreu alguma adversidade evidente na vida.

Pra mim, esse é o tipo de interpretação ideal, aquele que será capaz de ler apenas o mapa, sem conhecer a pessoa e sem pré-concepções do que seria o planeta, pois são todos ruídos que atrapalham a interpretação.

Acho que a resposta encontrada conseguiu me satisfazer no momento…

métodos de pesquisa astrológica

O radicalismo é uma névoa que entorpece os sentidos. Alguns colegas de astrologia defendem um único viés para metodologia de pesquisa das técnicas astrológicas: prever, prever e prever. Para eles, não é bom pegar um mapa e ler o que já aconteceu, pois qualquer teoria pode se encaixar nesse tipo de leitura. Eu concordo com eles quando se trata de amostras isoladas, mas será que descobrir em 200 mapas o mesmo sinal que represente determinada conduta do nativo invalida toda e qualquer pesquisa retroativa?

Como todo radicalismo, esse tem bases bastantes frágeis. É praticamente impossível testar todo o conhecimento contido em livros de astrologia medieval sem que olhemos para um exemplo perto de nós, depois dele ter acontecido. A única consideração desse nazismo astrológico que acho bastante profícua para o estudo da astrologia é evitar usar amostras pequenas. Teste muito, e sempre publique seus relatos iniciando com a frase “é provável que…”. Não basta crer que um asteróide funciona só porque você o testou no mapa de George Michael.

Isso entra em choque com outro radicalismo metodológico que paira em outros meios astrológicos, esses com véus mais modernosos. Para eles, não é possível fazer pesquisa astrológica, já que o mapa representa os modos de ação e experimentação da realidade dos corpos terrestres e seres humanos, e não a sua descrição morfológica exata. Ou seja, eu não posso prever pelo mapa se a pessoa será nariguda, mas posso saber como ela ama, odeia, enxerga a vida… Isso segundo a astrologia psicológica, é claro. Para essas pessoas, sugiro que façam um bom curso de astrologia horária e perceberão que os signos também descrevem a forma dos corpos terrestres, mas não em detalhes, claro. Você pode saber como e onde ficará a sua casa estudando a posição do regente da quatro. Uma casa em Touro, por exemplo, pode ser rústica ou ficar ao nível do mar. Se a casa quatro for regida pela lua, é provável que ela fique no litoral ou perto de água. Qualquer pessoa descreverá a localização da minha casa como “perto do mar”. não importa o modo como elas a perceberão, qualquer pessoa com alguma sanidade mental reconhecerá que a minha casa fica no litoral.

Basta de verborragia filosófica atrofiante por aqui. Não permitirei que sofismas relativizantes entrem nesse blog. Ao contrário do que muitos autores pós-modernos acham, é possível (e simples) uma metodologia de pesquisa astrológica. Vamos dar um exemplo com marte em signo de vênus.

Ora, Bonatti é explícito ao afirmar que marte em signo de vênus e vênus em signo de marte representam prejuízo social por excesso de atividade venérea. Perceba que ele não diz como o nativo se relaciona sexualmente, mas sim que em qualquer lugar do mundo ele terá prejuízo social ao desrespeitar os códigos de ética e moral específicos do seu local. Isso é mais um daqueles aforismos medievais que todos insistem em criticar. Certo dia, um astrólogo chamado Robert Zoller deixou de considerá-lo pitoresco e resolveu pesquisar em seus bancos de mapas se ele poderia representar aquilo que descreve. O mesmo caminho é realizado até hoje, por centenas de astrólogos que estudam astrologia medieval em todo o mundo. Foi o caminho que escolhi, até que um dia eu percebi a repetição desse aforismo em mapas mais do que a nossa vã aleatoriedade pode pressupor.

Tenho percebido ultimamente que nativos homens portadores de marte em libra e marte em touro tendem de fato a sofrer prejuízo social por conta de sexo, não necessariamente um excesso. Às vezes, basta acontecer uma vez para que as cortinas se abram na frente do público. É o caso de Bill Clinton, que possui marte em libra conjunto ao ascendente. Ou de Michael Jackson, que possui marte em touro.

Outro exempĺo numa comunidade de orkut me chamou atenção. O nativo tinha marte em libra regendo o ascendente Áries e era conhecido entre seus amigos e vizinhos por não parar em nenhum relacionamento, destruindo seu casamento. Aqui o prejuízo social é a infâmia de ser instável. Essa conduta difere da minha, que possuo marte em libra regendo o ascendente da mesma forma. Nos meus tempos de solteirice, gostaria de ser mais dinâmico do que realmente sou, mas Saturno faz uma conjunção com Marte que o inibe um pouco, outro aforismo de Bonatti que se aplica perfeitamente a mim.

Continuando o estudo da configuração marte-Saturno, o grande maléfico tem muita dignidade em Libra, e faz com que marte tenha uma expressão mais salutar, pois ele o recebe em sua exaltação e triplicidade. Todavia marte invariavelmente tenta destruir Saturno por este se encontrar no local da sua ira.

Um aforismo requer inteligência parea ser interpretado e percebido em seu pleomorfismo, coisa que poucas pessoas na contemporaneidade desfrutam. Para que as pessoas entendam ironia, é preciso que o indivíduo tenha uma boa alfabetização.